Mochila às costas, encarei sozinho o caminho que me levaria a Leeds, mais propriamente à Harewood House, herdade onde se realizaria o
O2 Wireless Festival, ocupando os 2 dias do fim-de-semana (eu apenas comprei bilhete para o 1.º dia).
Duas horas depois de partir de Manchester estava a entrar no recinto, viagem mais rápida era impossível. Depois de um primeiro reconhecimento do local, tempo para me deslocar até ao Galaxy Stage (palco alternativo patrocinado por uma rádio britânica) onde já tinham sido abertas as hostilidades.
A 1.ª banda a entrar em acção foram os
Grandadbob, perfeitos desconhecidos para mim. Apresentaram uma mescla de sons diferente, com pormenores electrónicos, violoncelo, xilofones e uma voz feminina de tons épicos. Interessante.
Depois era tempo para abancar no excelente relvado, sob o surpreendente sol (!) e confeccionar uma bela sandes mista. Seguidamente era altura de molhar a garganta e lá fui estrear a barraquinha da cerveja.
O palco principal acabava de ser inaugurado quando me aproximei, a cargo dos
Metric, banda canadiana que também desconhecia. Agradaram-me bastante, especialmente durante as explorações melódicas instrumentais que executavam durante todas as músicas. Não sei se com motivos ou não, fizeram-me recordar Placebo, embora não veja uma ligação tão directa entre as bandas.
No palco principal seguiu-se o igualmente desconhecido (para mim)
Sway.
Rapper britânico apenas acompanhado de um DJ e vi imediatamente que todas as músicas soariam ao mesmo. Além disso os
Mojave 3 aprestavam-se para actuar no palco alternativo. Momento para recarregar a cervejola e sentar-me em frente ao palco, situado dentro de uma tenda de circo. E foi a primeira grande actuação do festival. Os seus sons oriundos do deserto americano, as melodias simples e ao mesmo tempo profundas e o rock arenoso que fazia bater o pé. Uma performance bem sólida.
Após a banda norte-americana, tomou conta do palco o projecto
Get Cape, Wear Cape, Fly, personalizado por Sam Duckworth, somente acompanhado pelo seu laptop e a sua viola acústica. Se a ideia parecia promissora no papel, melhor soou ainda na prática. Composições sólidas e melódicas, sentidas, reforçadas por batidas poderosas, conjugando-se na perfeição. Bastante refrescante esta mescla musical, que me fez pesquisar mais tarde sobre este projecto.
A meio do 3.º tema, mudei-me de armas e bagagens para o palco principal, com a missão de confirmar se os
Gnarls Barkley eram mais que um
one hit wonder. Bastante prejudicados pelo som precário e pelo estado degradado das cordas vocais do excelente vocalista, ainda assim a banda demonstrou que tem mais composições de bom nível além do popular "Crazy". Fiquei claramente com a ideia de que, reunidas as melhores condições, o concerto dos Gnarls Barkley teria sido bastante bom, assim não passou de mediano. A rever.
De volta ao Galaxy Stage onde os
Midlake já emitiam o seu rock trabalhado, oriundo do Texas, com uns tiques experimentalistas q.b. não muito usuais no rock vindo dessas paragens.
Um som adulto mas que me pareceu que necessita de crescer melodicamente. Mas foram positivas as indicações dadas pela grupo texano.
Pharell já actuava quando regressei ao palco primário. O membro dos N*E*R*D* mostrou ser um excelente
entertainer,
capaz de pôr a multidão a dançar com o seu hip-hop-soul sempre coadjuvado por batidas super interessantes. O facto de Pharell estar acompanhado por uma banda, que tocou hip-hop ao vivo, enriqueceu inegavelmente a qualidade do seu show. O outro factor que tornou o concerto de Pharell muito mais interessante foi o ter interpretado temas do cardápio N*E*R*D*. Não contava com isso e delirei quando ouvi o primeiro, porque isso significava que mais se seguiriam. Excelente espectáculo!
A chuva começou a cair e era altura de sacar o impermeável da mochila (sim, os festivais de Verão ingleses não incluem garantidamente o sol). Ainda assim, o sol tinham reinado durante a maior parte do dia. Comecei a sonhar como seria bom ouvir Massive Attack debaixo de chuva... que cenário intringante.
Aguardei em frente ao palco o início da actuação dos Goldfrapp. Depois de ouvir o tema inicial, virei-lhes as costas. Acho que nunca perdoarei aos Goldfrapp por terem mudando de sonoridade após um primeiro álbum quase perfeito. Além do mais, as batidas só me fazem lembrar bandas pirosas...
Pela primeira vez, a relva que se encontrava dentro da tenda do palco secundário ficou completamente repleta com a actuação de Terry Callier. Porém notava-se claramente que era por
DJ Shadow que a multidão enchia a tenda, ansiando pelas gordas batidas vindas dos vinis.
E foi à porta da tenda que aguardei por um buraquinho para poder assistir à sessão de Shadow. Desde o primeiro segundo que o público estava rendido. DJ Shadow começou por informar que seria a sua 2.ª actuação a solo em 3 anos, o que ajudou a tornar a ocasião ainda mais especial. Com motivos visuais a legendarem os sons saídos das suas 3 turntables, o espectáculo ganhava ainda outra dimensão. Reconheço que quando entraram em acção os rappers convidados a música perdeu algum interesse (pessoalmente falando). Além do mais, o cansaço começava a apoderar-se de mim...
Tempo para ouvir os últimos sons de DJ Shadow sentado na relva, enquanto digeria mais uma sandocha. Depois, altura de ir reservar lugar perto do palco para assistir ao grande concerto da noite e a razão que me levou a Leeds!
MASSIVE ATTACK!
A veia política dos Massive continua em alta, no final da 1.ª música já tinham mandado à merda um dos partidos políticos ingleses. O espectáculo foi semelhante ao que tinha assitido em Lisboa quando da digressão de "100th Window", porém com mais flashbacks pois os Massive Attack estão agora a promover o seu best of, denominado "Collected". Dos temas originais desse disco duplo só apresentaram "Live With Me", o 1.º single retirado dessa colectânea, vocalizado in loco pelo próprio Terry Callier. Podemos mesmo dizer que a banda de Bristol estava super acompanhada porque além de Callier e dos já habituais Horace Andy e Deborah Miller, trouxeram também Liz Fraser! O único ponto negativo do concerto foi a falta de fãs acérrimos, embora houvesse imensa malta a desfrutar. Musicalmente foi estrondoso como sempre, ao longo do desfilar dos temas. Mais uma vez Deborah brilhou ao entoar "Unfinished Simpathy".
A chuva acabou por não comparecer mas o céu apressou-se a escurecer para que a música fizesse ainda mais sentido e para que o usual placard electrónico transmitisse os seus slogans políticos, atacando principalmente as acções dos E.U.A. no Iraque. Música para sentir e reflectir e... para me dar ânimo para o regresso a casa.
Seguiram-se 2 horas à espera de autocarro para sair do recinto em direcção a Leeds e 5 horas depois chegava a casa, são e salvo! Mal me podia mexer, mas a minha alma estava satisfeita... e foi com esse objectivo que saí de casa e me pus ao caminho.